No Dia 31 de outubro, as paredes da igreja da Comunidade Evangélica de Estrela parecem guardar ecos de uma longa e inspiradora história. A Reforma é celebrada aqui com um olhar para o passado e um coração que pulsa pelo presente, no reencontro de gerações, vozes e memórias – lembranças que se erguem a cada encontro, ao som das palavras eternas: “Glória seja a Deus nas alturas.”
É fácil imaginar a cena dos primeiros dias: em 1856, famílias de imigrantes alemães chegam a Estrela, trazendo na bagagem a fé e a esperança de um novo lar. Em meio a incertezas, fincam raízes e, em 1863, fundam a Comunidade Evangélica de Novo Paraíso, e, uma década depois, a Comunidade do Centro, em 1873. Em 1906, com o crescimento da comunidade e a necessidade de maior estrutura, nasce a Paróquia, que começa a organizar e fortalecer a fé evangélica-luterana na região.
O primeiro templo, erguido em 1874, torna-se símbolo desse compromisso que os pioneiros tomaram para si para cultuar e construir uma comunidade sólida e ensinar os caminhos da fé. Para eles, ser evangélico luterano era mais do que frequentar a igreja; era preparar o futuro para as próximas gerações.
Ao lado do templo, surge uma escola paroquial em 1904, onde o pastor se desdobrava em seu papel de professor, combinando o saber secular ao sagrado, e fortalecendo a visão de que uma comunidade de fé também é uma comunidade de saber.
Em 1926, um novo templo ergue-se em Estrela, como se quisesse tocar o céu. Ao som do coro de trombones e dos hinos sagrados, suas portas se abrem, trazendo uma nova construção, mas também uma renovação da fé. É uma reafirmação da identidade luterana, que ressoa nos sinos consagrados anos antes, em 1914, gravados com as palavras: “Terra, terra, ouve a voz do Senhor” e “Glória seja a Deus nas alturas.” Eles chamam a comunidade para o culto, ecoando valores e tradições que cruzaram o Atlântico e o tempo.
Em 1970, mais uma vez, a comunidade se reúne para consagrar o atual templo, uma construção moderna e acolhedora, que simboliza a continuidade e a coragem dos fiéis. Reformada em 2006, a igreja ganhou melhorias – novo sistema de som, iluminação, teto e bancos –, mas manteve intacta a essência de um lugar sagrado e, acima de tudo, de acolhimento.
Neste Dia da Reforma, cada hino e cada palavra entoada nos conecta aos que vieram antes de nós. A chama da fé que os moveu continua acesa em nossos corações. Que possamos seguir os passos dos nossos antepassados, sendo, como eles, uma comunidade de amor, aprendizado e devoção verdadeira. E que ao ouvirmos o som dos sinos, sejamos lembrados da nossa missão: uma congregação unida pela fé e pelo compromisso de cuidar uns dos outros, sob a luz de Deus.
Airton Engster dos Santos - Colunista do Jornal Nova Geração
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