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sábado, 30 de agosto de 2014

Colinas-RS - Persistência, políticas públicas e conhecimento: os segredos do leite no município do Vale do Taquari


Boas Práticas II - Persistência, políticas públicas e conhecimento: os segredos do leite de Colinas

Os agricultores familiares Marco Rohr e Elias Muller são unânimes em afirmar qual a principal virtude necessária para a manutenção no campo: a persistência. De fato, motivos não faltaram para que desistissem. Atuantes em fóruns e conselhos ligados à atividade, os jovens rurais construíram uma história de vida por caminhos diferentes até se encontrarem como referências na produção de leite, em Colinas (RS), na região do Vale do Taquari.

Marco era apenas mais um dos tantos jovens que deixam o campo com destino à cidade. Pois o futuro lhe pregou uma peça. Com a mulher, Ana, grávida, e com o constante apelo dos sogros para que retornasse à roça, largou o emprego de chefe de fábrica na cidade e voltou ao campo, seduzido pela comodidade e o conforto que poderia ofertar à família. Como ele mesmo define, trocou pessoas por vacas.

No início, claro, muitas dúvidas. “Fui visitar propriedades, pegar exemplos, fiz curso em Teutônia, dias de campo. Naquele tempo tínhamos um trabalho com chimia e melado, mas não era naquilo que eu queria trabalhar. Decidimos ir para o leite”, conta Rohr, que, entre tantos cargos que ocupa, é conselheiro do programa Microbracia Taquari-Antas e do Sindicato dos Trabalhadores Rurais do município.

Dos 32,5 hectares de terra da propriedade localizada na Linha Roncador, 5 ha são de pastagem permanente, com adubação orgânica, para a qualificação do leite a partir do baixo custo de mão de obra. “Trabalhamos apenas eu e minha mulher, buscando sempre conservar o ambiente, não adianta a gente mexer onde não dá. Temos atividade leiteira licenciada”, destaca o agricultor, antes de abrir um sorriso ao falar dos números obtidos.

O terreno favorável à produção de leite, a experiência e determinação do agricultor e o apoio das políticas públicas (capacitação no programa Leite Gaúcho e recursos para a implantação de pastagem perene – R$ 1.111,11, entre outros) geraram um crescimento exponencial na produção. De 90l produzidos no início o número passou a 1.114 litros a cada dois dias (560l/dia), quando é feita a entrega ao Lacticínios Steffenon, grupo responsável pela distribuição e comercialização do produto.

Entre as metas da família Rohr está a construção de uma sala de ordenha, anexada ao galpão já
existente, para qualificar o manejo do plantel de 30 vacas (quatro delas expostas na foto acima) e 10 novilhas e chegar aos 1.000l/dia. Do programa Irrigando a Agricultura Familiar, será construída uma cisterna escavada para armazenamento de 60,00m³ de água com motor, mangueira e canos.

Mauro Stein, coordenador da SDR responsável pela região de Colinas (RS), entende que o trabalho realizado pelos agricultores é referência para outras propriedades: “A participação desses jovens rurais nas suas comunidades ajudaram muito na decisão da permanência no campo e, por conseqüência, no aumento e na qualidade do trabalho feito, que serve de parâmetro para outros”.

Conhecimento aplicado ao campo

Se por um lado Marco saiu, experimentou novos ares, mas voltou ao campo, Elias Muller sempre soube onde era o seu lugar. É na Linha Leopoldina, interior de Colinas (RS), mais precisamente. Ali, em uma propriedade de 8 hectares que divide com sua mãe, Wilma Muller, ele cresceu, pisou pela primeira vez na terra, passou a ajudar à família e lidar com o meio ambiente, até tornar-se um agricultor familiar com produção de 200 litros de leite por dia, com um plantel restrito de 10 vacas e adubação orgânica (foto abaixo).

Olhos no futuro, mas pés no chão. Ciente das necessidades de atualização da propriedade, Elias salienta a importância do apoio das políticas públicas, que possibilitaram a aquisição de um trator agrícola e de uma ordenha canalizada, frutos, respectivamente, do Programa Nacional de Desenvolvimento da Agricultura Familiar (Pronaf) e Mais Alimento, do Governo Federal. Além disso, mais de R$ 6 mil de recursos do Fundo de Apoio aos Pequenos Estabelecimentos Rurais (Feaper), entre formação de pastagem e unidade de base ecológica, foram investidos. Entretanto, ele sabe os limites de sua propriedade.

“Se olharmos essa área, 15 vacas é o nosso limite. Aumentamos um pouco a produção, mas para uma família com três filhos já se tornaria insuficiente. Só que seria um desperdício de mão de obra se eu não colocasse em prática o conhecimento que adquiri durante toda uma vida no campo. Temos que ter persistência e estar bem informado, para não deixar as informações somente na mão dos outros”, esclarece.

A cada dois dias, Elias entrega 400 litros de leite à cooperativa Languiru. Produz também feijão para a alimentação escolar da região. Não quer botar todos os ovos na mesma cesta, diz. Com adubação orgânica e pastagem perene, preocupa-se em oferecer um produto de qualidade. Trabalha com pouco, mas o conhecimento lhe permitiu muito.

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