Voltar para o campo é o desejo de muita gente que cresceu na Zona Rural, mas acabou na cidade. Fazer o caminho de volta exige planejamento, disciplina e, na maioria das vezes, inovação, para aumentar a renda no campo.
Foi esse o caminho escolhido por três jovens gaúchos que se uniram por um projeto de produzir morangos sem agrotóxicos e com selo verde, no Rio Grande do Sul. O projeto que uniu um antropólogo, uma farmacêutica e uma advogada. Eles queriam um negócio rentável, que pudesse competir com as oportunidades que eles tinham na cidade.
Há três anos as primeiras mudas de morango chegaram à fazenda dos Kartsch, em Estrela, no Rio Grande do Sul. O município fica às margens do rio Taquari, a 100km de Porto Alegre. É base de uma colônia alemã. A Zona Rural é tomada por granjas.
Dona Flávia e seu Renato cresceram no campo. Primeiro na agricultura e depois com os animais. Eles são os pais da Marlove, a farmacêutica, e da Márcia, a advogada. Sogros do Luiz, o antropólogo. A história do morango começou depois do casamento desses dois.
Sonho realizado
O sonho deles não era só produzir morango. Eles queriam um negócio muito produtivo, que respeitasse o meio ambiente e também as pessoas. E, além disso, eles queriam um negócio rentável, que pudesse competir com as oportunidades que eles tinham na cidade.
Uma estufa gigante com 102 metros de comprimento, por 28 de largura faz o cultivo protegido. Ela objetiva que a planta tenha uma proteção, que não entre dentro da estufa as doenças e pragas que poderiam estar infligindo os morangos.
O teto plástico do cultivo protegido reduz o uso de agrotóxicos. 80% menos, segundo a Andreia Binz Tonin, que é técnica da Emater (Empresa de Assistência Técnica e Extensão Rural) local. “O plástico usado nessa estufa tem um efeito guarda-chuva. Não permite que a água chegue até as folhas e não tendo água livre nas folhas do morangueiro, o fungo não consegue penetrar nas folhas”, diz ela.
As plantações de morango têm evoluído do plantio aberto, no solo, para bancadas protegidas por tetos de plástico, laterais abertas. Metade do morango gaúcho já está em estufas desse tipo. Os Kartch foram além. Protegeram a produção com uma tela que barra os insetos indesejáveis, aqueles que podem trazer doenças.
No chão, nada de mato. Um tapete de ráfia impede o crescimento de plantas. Ele evita o trabalho de capina e a aplicação de herbicidas - qualquer veneno no chão pode chegar nos morangos, plantados logo acima, nessas bolsas com substrato - compradas prontas e que substituem a terra. E, apesar da estufa fechada, tem a abelha nativa, sem ferrão, e a ápis. Elas entram e saem por dentro das colmeias, na parede da estufa. É que a caixa tem uma passagem secreta na tela só para as abelhas. É o que permite o vai e vem.
“A polinização é muito importante no morango porque aumenta a produtividade e a qualidade do fruto. Reduz 70% a má formação de frutos. E também até o calibre o fruto fica melhor com essa questão da polinização”, explica Andréia.
Certificação
O fertilizante é convencional, não orgânico. Isso não impediu que a propriedade ganhasse um selo verde internacional da Rainforest Alliance - Aliança das Florestas Úmidas. Cafés e chocolates são os produtos mais comuns a ter o selo. O morango que a Márcia é agora o primeiro do brasil com o selo.
Produção pode chegar a 116 toneladas por ano
No início eram 36 toneladas de morango por ano. Com a ampliação pretendida pela família, devem chegar a 116. Sem contar o aumento de produtividade. Hoje, cada pé produz 1 quilo de morango o ano todo. Com a tecnologia Márcia e Luiz querem chegar a 1 quilo e trezentos gramas. Sobre faturamento, eles não gostam de falar. Mas revelam que os morangos já rendem quase dez vezes mais que os aviários da família.
Fonte: Globo Rural - Rede Globo de Televisão...