Leia Coluna do Airton Engster dos Santos no Jornal Nova Geração de Estrela

sexta-feira, 24 de maio de 2024

As Memórias Submersas do Porto de Estrela! Crônica do Airton 20 - Enchente do Rio Taquari 2024






As Memórias Submersas do Porto de Estrela! Crônica do Airton 20

Em um dia nebuloso de maio de 2024, o Rio Taquari elevou suas águas como nunca antes visto, engolindo com voracidade tudo o que encontrava pelo caminho. Foi um evento histórico, daqueles que se tornam marcos na memória coletiva de um povo. E, entre os muitos afetados, estava o Porto de Estrela, outrora símbolo de progresso e prosperidade do Vale do Taquari.

Desde a sua inauguração em 10 de novembro de 1977, o Porto de Estrela foi uma estrutura de transporte. Foi a artéria que pulsava riqueza e desenvolvimento para Estrela e região. A combinação estratégica de rodovias, ferrovias e hidrovias fazia dele um ponto de convergência inestimável. Era como se todos os caminhos levassem ao Porto, conectando produtores e consumidores, importadores e exportadores, todos dependentes dessa vital estrutura.

A construção do entroncamento foi uma façanha monumental. Sob a égide de um convênio que envolveu a Petrobrás, o Deprec e a CESA, a obra foi um exemplo de cooperação e visão de futuro. A Petrobrás bancou o projeto, investindo cerca de 300 milhões de Cruzeiros, uma quantia astronômica para a época. Mas o retorno foi incomensurável, trazendo desenvolvimento e emprego, transformando Estrela em um fulcro econômico da região.

Situado junto à BR 386 e conectado por estrada de ferro às áreas produtoras, o porto era a porta de entrada e saída para produtos que percorriam vastas distâncias. Via fluvial, ligava-se ao Porto de Rio Grande, abrindo caminho para o mundo. Durante mais de uma década, a estrutura ferveu de atividade, testemunhando o vai e vem constante de mercadorias e pessoas. Estava sempre viva, sempre em movimento.

Porém, nada escapa ao implacável avanço do tempo. Nos anos 90, a atividade no Porto de Estrela foi desativada, e uma quietude melancólica tomou conta do local. Mesmo assim, a administração municipal não desistiu dele, pleiteando sua municipalização e organizando eventos como a EstrelaMultifeira, na tentativa de reviver seu antigo brilho.

Mas a natureza, com sua força indomável, trouxe um fim inesperado e abrupto para essas aspirações. A grande enchente do Rio Taquari em 2024 destruiu toda a estrutura do porto. As águas revoltas não pouparam nada, deixando um rastro de destruição e desolação. Os custos de recuperação são tão altos que inviabilizam qualquer tentativa de reconstrução. Restaram apenas as lembranças.

E que lembranças são essas! De um tempo em que o Porto de Estrela era o orgulho dos estrelenses, uma prova tangível de que o trabalho conjunto pode erguer maravilhas. O som dos guindastes, o apito dos trens, o burburinho incessante de trabalhadores e comerciantes, tudo isso agora repousa no fundo do rio, envolto em silêncio aquoso.

Enquanto a cidade se reorganiza e tenta seguir adiante, o Porto de Estrela permanece nas memórias daqueles que viveram seus anos dourados. Uma parte da identidade coletiva que foi destruída. E, talvez, ao recordar com carinho e saudade o porto que um dia foi a alma do progresso, os estrelenses possam encontrar forças para continuar construindo, honrando o passado e mirando o futuro.

Assim, as águas que levaram o porto consigo também trouxeram à tona o melhor dos sentimentos humanos: a persistência. Porque, em Estrela, embora o porto tenha se perdido, o espírito de superação e a vontade de crescer permanecem imortais.

Airton Engster dos Santos - Historiador.

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