O velho violão de madeira repousava em silêncio no Memorial de Estrela. Um instrumento que outrora acompanhara vozes e melodias em momentos de pura alegria. Suas cordas, há muito tempo imóveis, pareciam sussurrar saudades de mãos habilidosas, de um artista que pudesse lhe devolver a vida. E foi quando Déo, músico querido de Estrela, entrou naquele espaço com o coração cheio de amor pela música e pelos Beatles.
Ao avistar o Del Vécchio, algo pareceu acontecer. Era como se uma conexão imediata fosse estabelecida entre o artista e o violão, ambos entendendo, sem palavras, que aquele momento era especial. Com delicadeza, Déo tomou o instrumento em suas mãos, analisando suas marcas do tempo, sua estrutura desgastada, e soube que o velho companheiro merecia mais do que o silêncio.
Foi então que, com maestria e dedicação, Déo iniciou a restauração. Cada fio, cada peça recolocada no lugar, era um gesto de amor. E, aos poucos, o violão renascia, com a promessa de fazer vibrar novamente o som que tanto significava para quem o ouvia.
Quando chegou o momento de tocar, o silêncio do Memorial foi substituído pelo som suave das cordas. Déo dedilhou a melodia com uma precisão quase divina, e as notas flutuaram pelo ambiente como se sempre tivessem estado ali, apenas esperando para serem libertadas. As primeiras canções que ele escolheu foram como um tributo – uma homenagem não só aos Beatles, mas também à memória de todos os artistas que um dia fizeram o Del Vécchio cantar.
As notas ecoaram, e as lágrimas brotaram nos olhos de muitos presentes. Era uma celebração da vida, da arte e da persistência das histórias que jamais devem ser esquecidas. O velho violão, que antes chorava de saudade, agora sorria novamente, nas mãos de um artista que compreendia sua alma.
E ali, entre as paredes do Memorial de Estrela, o tempo parou. Déo e o violão, juntos, emocionaram a todos, mostrando que a música tem o poder de restaurar não apenas instrumentos, mas também corações.
Airton Engster dos Santos - Coordenador do Memorial de Estrela.