Na pacata Linha Harmonia, onde o vento parecia soprar histórias de um passado distante, Reinholdo Konrad, antigo professor da comunidade, gostava de contar sobre as casas enxaimel que pontilhavam a paisagem de Estrela. Sentado em sua varanda, ao lado de Luiza, sua amada esposa, ele narrava como os primeiros imigrantes alemães, cheios de esperança e coragem, haviam erguido aquelas casas com suas próprias mãos. "Cada viga de madeira, cada tijolo encaixado entre elas, carrega não só a técnica dos nossos antepassados, mas também a força de quem buscava construir um lar em terras tão distantes", dizia ele, com os olhos brilhando de orgulho.
Reinholdo via nas casas enxaimel mais do que simples moradias. Para ele, eram livros abertos, narrando em silêncio as dificuldades e conquistas dos pioneiros. Ele descrevia as longas tardes em que as famílias se reuniam para cantar em alemão, moldar o barro e reforçar as estruturas de madeira, enquanto as crianças brincavam ao redor. Luiza sempre acrescentava algum detalhe sobre a vida naqueles tempos – os banquetes de domingo, os cheiros que vinham da cozinha de fogão a lenha, e as janelas decoradas com cortinas de renda feitas à mão, que davam às casas um toque de delicadeza em meio à rusticidade.
Aos netos, incluindo Selmita, Sinésio, Marlene, Silácia, Wilmuth e os gêmeos Erico e Érica, Reinholdo contava que preservar aquelas construções era um ato de amor por uma história que não deveria ser esquecida. Ele temia que as enxaimel fossem engolidas pelo progresso e alertava: "Sem elas, quem contará às próximas gerações sobre a coragem dos nossos ancestrais? São as vigas e os tijolos que mantêm viva a memória do que fomos". E assim, cada palavra do professor se transformava em um legado, mantendo as casas enxaimel de pé e vivas no coração de quem o ouvia.
Airton Engster dos Santos
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