Leia Coluna do Airton Engster dos Santos no Jornal Nova Geração de Estrela
segunda-feira, 9 de dezembro de 2024
domingo, 8 de dezembro de 2024
O Amor em Forma de Vida: Dona Ira Bücker Schwambach
O Amor em Forma de Vida: Dona Ira Bücker Schwambach
Há lugares que parecem conter em si uma beleza deslumbrande, mas também histórias vivas que se espalham pelo ar, tocando o coração de quem os visita. Assim é a propriedade de Dona Ira Bücker Schwambach, um refúgio que carrega a essência de sua anfitriã, tão grandiosa quanto o cenário que a cerca.
Ao atravessar o portão ornamentado, nos deparamos com um paraíso de simplicidade e esplendor. Duas casas, cuidadosamente decoradas com relíquias da imigração alemã, nos transportam no tempo. Cada objeto, cada pintura externa que evoca as tradições germânicas, conta um pedaço de história, como se as paredes tivessem voz e memória.
Os jardins, em perfeita harmonia, parecem tocados pela mão de Deus. Árvores frondosas abraçam gramados impecáveis, enquanto flores de todas as cores desenham caminhos que nos levam a contemplar a delicadeza do cuidado humano. A propriedade é um reflexo da alma de Dona Ira, uma mulher que vive com e para o amor.
Aos 94 anos, Dona Ira é um pilar da fé e da generosidade. Seus familiares a cercam com abraços e beijos, atentos aos conselhos sábios que brotam de uma vida inteira de dedicação à família, à comunidade e a Deus. Há algo mágico em sua presença, uma energia que acolhe, inspira e renova.
Muito além de suas conquistas, Dona Ira é conhecida por sua humildade. Foi uma das fundadoras do Festival do Chucrute e dos Grupos Folclóricos, símbolos da cultura local que atravessaram gerações. Com o brilho nos olhos, ela recorda: "Ninguém faz nada sozinho. Muitos têm mérito nesse caminho." Essa frase reflete sua essência: um coração que reconhece o valor da coletividade.
Sua fé, sólida como as raízes de uma árvore centenária, a levou a realizar estudos bíblicos em comunidades, sempre com um sorriso e a palavra certa. Ao lado da família, Dona Ira também deixou sua marca no comércio, na indústria e na gastronomia de Estrela.
Naquele dia, enquanto estávamos sob o teto de sua história e entrelaçados por seu exemplo, percebemos que Dona Ira é uma lição de vida. Com sua fé inabalável e amor infinito, ela nos ensinou que viver é compartilhar, cultivar e crer.
Ao nos despedirmos, levamos mais do que recordações de um lugar mágico. Levamos inspiração. A inspiração de uma mulher que, em cada gesto, mostra que o verdadeiro paraíso não é um lugar, mas um estado de espírito.
É exatamente isso que Dona Ira transmite: uma beleza que vai além do que os olhos podem ver. Está nas suas ações, no legado que construiu, no carinho com que cultiva suas raízes e no amor que irradia para todos ao seu redor. Pessoas como ela nos lembram que a verdadeira beleza está na alma e na forma como tocamos a vida dos outros.
Obrigado, Dona Ira, por nos lembrar que o amor é a força que transforma tudo ao nosso redor. Sua história é uma bênção para todos nós.
Assina: Airton Engster dos Santos - Colunista do Jornal Nova Geração - Fotos: Vinícius Knecht - poeta e fotógrafo
O Paladino: Um Legado de Papel e Alma - Homenagem para Mariza e Roque Schwertner
O Paladino: Um Legado de Papel e Alma
Nas páginas da história estrelense, "O Paladino" ocupa lugar de honra, não apenas como um jornal, mas como um farol que iluminou caminhos, debates e sonhos de uma comunidade. Fundado em 1921 pelo visionário Antônio Cardoso, nasceu com a missão de ser a voz da coletividade, defendendo o comércio, a lavoura e a indústria — pilares que sustentam o coração de Estrela até hoje.
Os tempos eram outros, de impressão manual e clichês que levavam dias para chegar de Porto Alegre. Aloysio Valentim Schwertner, com sua tipografia, deu alma e continuidade a esse projeto. Suas mãos, que operavam máquinas manuais, também moldavam sonhos. Em uma época em que jornais eram o elo entre as famílias que deixavam Estrela e a terra natal, "O Paladino" tornou-se ponte de memórias, ecoando histórias desde os rincões gaúchos até o Rio de Janeiro.
Mas veio 1941, e com ele, a dura realidade da guerra, um turbilhão que silenciou as rotativas. O fechamento deixou Aloysio desolado, mas não apagou o impacto das 5 mil cópias que rodavam semanalmente. Pelo contrário, perpetuou um legado que encontrou nova forma na Livraria e Papelaria "O Paladino".
Sob a administração de Roque Schwertner, a tipografia transformou-se em ponto de encontro e serviço, adaptando-se às necessidades da comunidade. Convites, anúncios e registros de vida passavam por suas prensas. E foi assim até agosto de 2022, quando Roque nos deixou.
Agora, em dezembro de 2024, a despedida é inevitável. A Livraria e Papelaria "O Paladino", sob o cuidado de Mariza Schwertner e família, encerra suas atividades. O legado, porém, persiste. Os exemplares encadernados de 1921 a 1941, preservados com carinho, encontram novo lar temporário na Univates, para que outros possam revisitar a alma do jornal que um dia foi nossa voz.
No prédio antigo, onde o espírito do "O Paladino" ainda parece habitar, hoje ressoam as ideias do jornal Nova Geração e da Rádio A Hora. É uma nova era, mas as paredes sabem contar histórias.
Ao longo dos anos, a família de Roque e Mariza se tornou um pilar fundamental na construção da identidade e memória de Estrela. Com dedicação incansável, eles venderam livros e papéis, mas também compartilharam histórias e valores que atravessaram gerações. O trabalho de preservação e valorização da nossa história, impresso na generosidade de suas ações, permanece como uma marca indelével no coração da cidade. A gratidão é eterna por tudo o que fizeram pelo legado de nossa Estrela.
E assim nos despedimos de "O Paladino", não como algo que se encerra, mas como um capítulo que inspira. Porque legados, como este, não têm ponto final. Eles vivem em quem os reconhece, os valoriza e os mantém vivos — em memória e coração.
Assina: Airton Engster dos Santos - Colunista do Jornal Nova Geração
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