AVILTAMENTO DO PREÇO DO LEITE
José Adão Braun
Secretário da Agricultura de Estrela
A atividade leiteira representa a principal fonte de renda de um grande número de produtores do nosso município, que colocam no mercado em torno de 43 milhões de litros anualmente, produto altamente qualificado produzido dentro dos melhores níveis de tecnologias existentes no mercado. Para tanto, investem pesado em modernas instalações, equipamentos e qualificação do rebanho, além de uma adequada dieta e rígido controle sanitário.
Recentemente publiquei um comentário manifestando preocupação com relação ao desequilíbrio existente na balança comercial de lácteos e as consequências negativas que ele deveria trazer aos produtores se providências urgentes não fossem tomadas, cujo teor foi o seguinte:
“BALANÇA COMERCIAL DE LÁCTEOS”
“Analisando dados do Instituto Gaúcho do Leite, se chega facilmente a conclusão que a relação comercial de lácteos é significativamente desfavorável para os produtores brasileiros.As exportações dos três primeiros meses de 2016 foram de 11 mil toneladas, o que representa U$$ 30,5 milhões. Considerando estes valores, deduzidos que podemos chegar até o final do ano em torno de 45 mil toneladas e U$$ 120 milhões. Estes valores são inexpressivos se considerarmos o potencial e o crescimento estimado da produção até 2.020, no país de 27%. Somente nos três estados do Sul, de acordo com incremento que houve nos últimos 10 anos, segundo o IBGE e a FAO, continuando no mesmo ritmo, poderá aumentar a oferta de leite e derivados nos próximos 5 anos, de 10,7 para 19 bilhões de litros. Se confirmarem estes prognósticos poderemos ter um saturamento de mercados se não houver um crescimento proporcional no consumo interno e nas exportações.
O grande fator de preocupação para os produtores deve ser, no entanto, o grande volume de importações, que em 2015 chegou ao país, de 137,1 mil toneladas, no valor de U$$ 419,2 milhões. Só do Uruguai e Argentina chegaram, ano passado, para o Rio Grande do Sul, 28,4 mil toneladas de leite em pó, equivalendo a U$$ 74,5 milhões. Desta quantia o Uruguai participou com 96,4% e a Argentina com 3,6%. Se considerarmos o que isto representa de leite fluido, chega-se a 240,8 milhões de litros, 6% da produção diária do RS ou o equivalente a 1,8 dias de produção/mês dos produtores gaúchos.
O que mais assusta é o crescimento acelerado dessas importações, que só nos últimos dois anos aumentaram 330%, já que em 2014 foram internalizadas somente 8,6 mil toneladas.
Pela proximidade e a facilidade de ingresso, os produtores gaúchos ficam mais expostos e recebem o maior impacto. O aviltamento de preços de suas produções é uma realidade bem presente nos últimos tempos, a ponto de amargarem substanciais prejuízos.
Este quadro precisa de uma urgente atenção por parte das entidades representativas dos produtores e das autoridades brasileiras, sob pena de assistirmos um sério comprometimento da produção nacional, especialmente da gaúcha.”
Lamentavelmente, o pior está acontecendo. Após uma muito breve reação no preço para os produtores, estes já estão amargando uma significativa queda com prenuncio de continuar caindo, enquanto na contramão , os custos de produção não baixam. Pelo contrário, continuam aumentando.
Infelizmente se confirma o que se previa. O principal vilão deste desequilíbrio é o leite uruguaio que continua entrando no País e de forma mais intensa no Rio Grande do Sul. Segundo o Sindilat/RS, somente nos oito primeiros meses de 2016 o Brasil importou 153,38 milhões de quilos de produtos lácteos, um aumento de 80% com relação ao mesmo período do ano passado.
Reconhecendo a gravidade da situação, a Comissão de Agricultura do Senado, em audiência pública, discutiu a implantação de medidas urgentes para socorrer a cadeia produtiva do leite no Rio Grande do Sul. Foram definidas propostas a serem encaminhadas aos Ministérios da Agricultura e das Relações Exteriores, com destaque para a revisão da Normativa 26 do MAPA, que permite a reidratação de leite em pó importado e vendido no mercado como leite fluido a preço inferior ao do produzido aqui; estabelecimento de um sistema de cotas para limitar a entrada e não permitir o saturamento do mercado a ponto de inviabilizar a produção nacional.