Leia Coluna do Airton Engster dos Santos no Jornal Nova Geração de Estrela
Mostrando postagens com marcador 35 anos do Porto de Estrela. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador 35 anos do Porto de Estrela. Mostrar todas as postagens

terça-feira, 6 de novembro de 2012

35 anos do Porto de Estrela


Abandono marca os 35 anos do Porto de Estrela
Navios chegaram a transportar 1,3 milhão de toneladas ao ano. Hoje, máximo é 500 mil


O primeiro entroncamento rodo-ferro-hidroviário do país completa 35 anos de inauguração neste sábado com poucos motivos para comemorar. O déficit anual chega a R$ 600 mil, e o uso da estrutura fica abaixo dos 20% da capacidade total de movimentação e armazenagem. Construído pelo governo militar em 1977, a estrutura ocupa uma área de 35 hectares na margem do Rio Taquari.

A realidade atual contrasta com os anos 80, quando o porto atingiu seu auge. O volume de cargas transportadas superava 1,3 milhão de toneladas por ano. Hoje, em períodos normais, com o Rio Taquari em condições de navegação, o máximo que se alcança são 500 mil toneladas.

Ilseu Martinez, 55, foi um dos primeiros funcionários. Antes mesmo da inauguração, trabalhou como analista de materiais que eram utilizados na obra. Tem “vivo” na memória o dia da admissão como assistente administrativo do porto: 6 de julho de 1977.

O ápice

Na época, Martinez tinha 20 anos. “Foi um período de crescimento da região.” Lembra a inauguração do porto, que teve a presença do vice-presidente da república, General Adalberto Pereira dos Santos. Passados 35 anos de trabalho, sente saudade do ritmo intenso da década de 80.

Após a construção do porto, duas indústrias de óleo de soja se instalavam na área portuária. A Indústria Gaúcha de Farelos e Óleos (Farol) e a Granóleo. A partir do segundo semestre de 1978, o terminal passou a ter uma movimentação de cargas significativa.

Entre 1979 e 1980, foram transportadas 580 mil toneladas. Martinez diz que os barcos eram carregados diariamente. De Estrela, farelo de soja e óleo iam para Rio Grande e depois eram exportados para o Oriente Médio.

A queda

Responsável pelas operações de carga e descarga, Ronaldo Silveira, 44, veio de Caçapava do Sul trabalhar em Estrela em 1987. Tinha 18 anos. “Comecei em um período intermediário. Quatro anos depois de começar no porto, a movimentação decaiu.”

A partir de 1991, a procura dos empresários pelos serviços do porto diminuiu. O motivo principal está ligado às mudanças na política nacional, aliadas ao início da globalização do setor agrícola. As empresas que operavam próximo do porto redirecionaram a produção para o mercado interno ou fecharam.

Na época com maior movimentação de cargas, o porto chegou a ter 36 funcionários. Nos últimos 20 anos, reduziu para 12.

A primeira navegação

Martinez relembra quando o primeiro barco navegou até o porto com destino a Rio Grande. Em meio às obras de instalação, a embarcação da Navegação Taquara passou carregada de farelo de soja da Companhia Estadual de Silos e Armazéns (Cesa) em abril de 1977. “Hoje ver a estrutura parada, aguardando uso, dá tristeza”, comenta Martinez.

O sentimento é compartilhado por Silveira. Para ele, é necessário retomar a antiga movimentação pelo porto. “Temos toda a infraestrutura, maquinários. Falta interesse do empresariado.”

Na opinião de Martinez, há possibilidade de chegar ao patamar de movimentação da década de 80. Defende as tentativas da administração portuária, dos órgãos de governo e de líderes regionais que tentam reunir os empreendedores e elaborar um modelo para contemplar os transportes hidroviário e ferroviário.

História perpassa gerações

Pesquisador autodidata, Airton Engster dos Santos criou um blog com histórias e curiosidades sobre a região. O interesse sobre o porto é guardado na garagem de casa. São fotos, reportagens e revistas sobre a construção da estrutura em Estrela.

O pai dele, Norberto dos Santos, foi um dos operários que trabalhou na obra. Em meados de 1970, moravam em Santa Catarina. “Meu pai trabalhava na construtora e foi chamado para Estrela.”

Anos mais tarde, Airton foi contratado pela Farol. Conviveu com os anos de maior atividade do porto. “Chegávamos a produzir duas mil toneladas de farelo e óleo de soja por dia.”

Em meio ao arquivo pessoal, encontra-se uma raridade. A primeira planta do porto. Pelo projeto original, seria construída uma ponte da margem do Rio Taquari em Lajeado até o centro de Estrela.

Fonte - Jornal A Hora - 6 de novembro de 2012