O Último Abraço de Vó Sélia
No bairro Imigrantes em Estrela, o tempo parecia correr mais devagar, como que para saborear cada momento ao lado de Vó Sélia, uma senhora cuja vida foi um tributo ao amor e à generosidade. Com seus 93 anos de sabedoria acumulada, Selita de Freitas da Silva, carinhosamente chamada de Vó Sélia, partiu deste mundo, deixando um legado imensurável de bondade e serviço.
Quando os primeiros raios de sol atravessavam as janelas de sua modesta cozinha, era possível ouvir o som dos utensílios se preparando para mais um dia de dedicação. O cheiro do feijão fresquinho, a sopa quentinha, e o arroz soltinho eram um convite ao conforto e à esperança para muitas famílias carentes. Vó Sélia era a alma que aquecia corações famintos, a mão amiga que estendia seu apoio incondicional.
Em cada sorriso que recebia em troca, encontrava forças para continuar. A comunidade, reconhecendo sua incansável dedicação, não hesitava em colaborar. Eram doações de alimentos, roupas, e, principalmente, tempo e carinho. Naquela cozinha, não se preparavam apenas refeições; cozinhava-se amor, temperado com solidariedade.
Mas era na época de Natal que Vó Sélia se transformava em uma verdadeira fada madrinha. Nenhuma criança do bairro Imigrantes passava sem presente, nenhuma carinha ficava sem o brilho da surpresa e da alegria. Organizar a chegada do Papai Noel era uma tradição aguardada com ansiedade. Vó Sélia, com seu sorriso caloroso, distribuía cachorros-quentes e refrigerantes, transformando o momento em uma celebração inesquecível.
O Natal de Vó Sélia era sobre presentes, magia do afeto e da união. Ver os olhinhos brilhantes das crianças, o riso solto, e a alegria que reverberava pelas ruas, eram recompensas que alimentavam sua alma. E assim, ano após ano, ela cultivava a esperança e a bondade em cada coração que tocava.
Hoje, com o coração pesado, a comunidade se despede de Vó Sélia, essa mulher extraordinária que nos ensinou o verdadeiro significado de servir ao próximo. Seus gestos simples, porém grandiosos, ecoarão por gerações. Na memória de cada um que teve o privilégio de conhecê-la, viverá o exemplo de amor e compaixão que ela encarnou.
Vó Sélia pode ter partido, mas seu espírito continua presente em cada refeição compartilhada, em cada sorriso devolvido, em cada criança que um dia acreditou na magia do Natal graças a ela. Sua vida foi um abraço caloroso que envolveu a todos nós. E mesmo em sua ausência, sentimos o conforto desse último abraço, que nos inspira a sermos melhores, a olharmos para o próximo com mais empatia e generosidade.
Descanse em paz, Vó Sélia. Sua luz jamais se apagará, e seu legado de amor permanecerá vivo em nossos corações.
Airton Engster dos Santos - Historiador